terça-feira, 21 de maio de 2024

Resenha 'O ponto de vista no filme documentário' de Manuela Penafria

O texto O ponto de vista no filme documentário de Manuela Penafria conceitua o documentário em contraposição com a ficção. Elenca-o ao processo de realização de escolhas e indagação destas, uma vez que tem como retrato a realidade, e, acima disso, como o documentarista a referencia. O documentário, portanto, situa-se na captação de imagens e cenários naturais e no processo de criação autoral.

O desafio proposto por Manuela parte justamente de como realizar um documentário. Ele é conceituado como estrutura narrativa com introdução, desenvolvimento e conclusão, de modo organizado e lógico com capacidade de chamar a atenção do público.

Mesmo com a criatividade e a autonomia, o documentarista deve estar ciente dos seus limites. Deve buscar um tema que tenha potencial de aprofundamento e possua interesse público. As temáticas dos documentários não necessitam ser geradas de notícias factuais. Contudo, discordo da autora quando diz que o documentário exclui a atualidade. Há temas livres, como há temas de notícias.

O programa A Liga, exibido na Band, é um bom exemplo para quebrar a generalização da autora. O documentário televisivo apresentou tanto temas diversos, sem gancho de notícias, como Milionários, O prato dos brasileiros e Mitos Sexuais; assim como temáticas com gancho atual. Mudanças climáticas – que investigou os desastres das enchentes do RJ e SP alguns anos atrás – e Jovens e Violência – que trouxe o caso do jovem que massacrou alunos de uma escola no RJ recentemente - podem ser citados.

Entendo o documentário sobre dois pontos. Primeiro como complemento de notícias factuais, uma vez que em um telejornal tradicional é praticamente impossível tratar com detalhes os assuntos, pois destina-se de 1 a 2 minutos para cada notícia. Segundo, como a possibilidade de discorrer assuntos interessantes e criativos. Após as escolhas da pré-produção, o momento das filmagens é primordial. O documentarista deve estar ciente das imagens que irá utilizar; as pessoas que irá entrevistar; os planos e enquadramentos; luzes; sons, entre outros. Ele filma de acordo com o que foi preestabelecido, no entanto, levando em consideração o instante da filmagem, já que a realidade é mutável. O desafio encontra-se em como encaixar escolhas pré-definidas e trabalhar os materiais na pós-produção.

Desse modo, a autora traz os conceitos de controle gráfico e controle narrativo. É importante definir, por um lado, a estética do documentário, assim como a montagem na pós-produção. O roteiro final do documentário não é o momento das filmagens, e sim a arte final, o processo de montagem do material colhido. O ponto de vista do documentarista não pára no momento da filmagem, e sim, quando o documentário é finalizado.


O programa A Liga nos permite perceber todos os processos de um documentário que desemboca em uma narrativa cinematográfica própria. A pesquisa aprofundada do tema, com dados estatísticos, assim como os possíveis contatos com os entrevistados, parte para a etapa de filmagem, mas não é tudo. É o processo de montagem que fornece um visual para a atração. Na pós-produção unem-se falas parecidas, de forma sequencial, que permita que o espectador realize associações. Se o repórter pergunta ao entrevistado sobre um assunto, coloca-se uma fala similar de outro em seguida. O resultado final é inventivo e dinâmico.

Em minha opinião, o documentário sugere, que por utilizar elementos da realidade, é um retrato fiel dessa. Contudo, o processo de escolhas do documentarista e a fase de pós-produção já causa representações. É por isso que a autora diz que o documentário não tem o intuito de transmitir a realidade, e sim referenciá-la.

Em um documentário, portanto, as questões éticas devem ser discutidas, tendo em vista a utilização de imagens. O documentarista deve deixar clara a finalidade da filmagem para as pessoas que irá entrevistar e manter uma relação de respeito. Em A Liga os espaços são transgredidos pela subjetividade do repórter, que vez ou outra, pede aos entrevistados que exibam partes do corpo. Essas ações já denotam preocupação mais em promover o entrevistado, do que mostrar realidade. Nem a promoção, nem a falta de respeito, em minha opinião, devem ser elementos importantes em um documentário, e sim, o conteúdo deste.

A autora reitera que o documentário não é algo fechado e quadrado, ele permite intervenções por parte do documentarista, já que a realidade permite seleções. O ponto de vista no documentário, portanto, depende de como o profissional vê a realidade e como pretende utilizar as imagens no documentário. É importante dizer, ainda, que o documentarista pode ter o objetivo de autopromover-se, tratar o assunto com sensacionalismo ou ser fiel ao tema. Tudo depende do ponto de vista.

O texto, portanto, é pertinente e condiz com a perspectiva do documentário, pois a autora trata-o não como um retrato fiel da realidade, e sim, como construção. Desse modo elenca como os planos e as escolhas de enquadramento determinam o ponto de vista do documentarista, assim como os processos de seleções influenciam em sua construção. J-J

 

Por: Emerson Garcia para a disciplina Produção e Edição em TV da UCB

2 comentários :

  1. Que interessante não conhecia e achei super bacana

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

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  2. Eu também concordo que o documentário é uma construção e não é totalmente isento e imparcial!
    Boa semana!

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