terça-feira, 14 de julho de 2015

Perdoem-os, eles não sabem o que é “blackface”

Fonte: G1/Instagram.


A internet está cheia de dedinhos nervosos e ‘donos da verdade’. Os cantores Michel Teló e Mariano (que faz dupla com Munhoz) pintaram o rosto em campanha contra o racismo. Eles pintaram metade da face de preto. Foi o que bastou para as críticas e acusações ferozes sobre racismo. Logo depois da farândola dos odiadores, os cantores apagaram a postagem e se desculparam. Mariano assim disse:

“Peço desculpas se ofendi alguém no post anterior com a campanha contra o racismo, não sabia desse tal de 'blackface'. Postei com a melhor intenção possível assim como a campanha foi criada. Perdão mais uma vez! Xô Preconceito.”


O ator Sérgio Cardoso em “A Cabana do Pai Tomás” Cedoc/TV Globo. 


Para quem não sabe, é quando um artista branco pinta seu rosto de preto para fazer uma personagem negra (e, naquela época, imitar os estereótipos racistas a respeito dos negros). Em termos raciais é algo a ser firmemente repudiado. Tanto um quanto o outro, nem sabia do significado do que praticaram. Mais racional foi um usuário de rede social que refletiu sobre o assunto:

“O Michel Teló representa o brasileiro médio que nem sabe o que é 'blackface'”.


O brasileiro médio nem ao menos sabe da complexidade das guerras no Oriente Médio. E, muito menos, as sabe como ocorreu. Se você perguntar a qualquer ser humano mediano o que é 'blackface' ninguém saberá. Esse episódio de ódio desenfreado na internet lembra a cena do filme Todo mundo em pânico 3, onde George Logan (Simon Rex) agradeceu ao público majoritariamente negro e o seu capuz fica no formato de um equivalente da Ku Klux Klan. Ele estende o braço fazendo o 'heil hitler', sem saber o significado, sendo defenestrado pela janela.





Tanto a indumentária da KKK, quanto a saudação nazista, são imitações das roupas usadas na Procissão do Fogaréu no Goiás e das cerimônias religiosas na Espanha (Minha querida Marta Máster, me corrija caso eu esteja errado). E a saudação é romana, e não nazista.

Pedir desculpas por fazer algo que não sabe é tão ridículo como um bebê se desculpar por fazer xixi na cama. O bebê não nasceu sabendo dos “protocolos do pipi e do popô”. Portanto, muito menos os artistas sertanejos foram ensinados o que é blackface e seu histórico. Se você fizer algo que não tem ciência de que é errado, não peça desculpas. Você não teve intenção de ofender algo ou alguém. Corrija o curso do destino e vá em frente. O politicamente correto está matando a espontaneidade de todos. Até a presidente Dilma Rousseff errou em discurso e não passou ilesa.





De olho no contexto

   Olha os racistas na tv Globo. Não, pera!


Dica: diante de qualquer situação que pareça boa ou ruim, lembre-se da palavra “contexto”. Por exemplo, você entra no escritório e vê a secretária em cima do chefe galanteador, sem contar que no local havia o armário de livros bagunçado e a escada caída no chão. Cuidado ao julgar. Se fóssemos ver tudo a ferro e fogo então o mundo estaria perdido.

No Brasil tivemos algo semelhante na novela A Cabana do Pai Tomás (Globo, 1969-70 – 19h). O ator Sérgio Cardoso (1925-72) interpretou três personagens: o presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln; o abolicionista Dimitrius; e o escravo Tomás. Esta última personagem foi a mais polêmica, porque foi um branco que interpretou em vez de um ator negro (na época clamavam que fosse Milton Gonçalves).

A patrocinadora da telenovela – a agência de publicidade Colgate-Palmolive – quis porque quis que Cardoso fosse Tomás e a empresa não havia se ligado no contexto multirracial brasileiro. A novela escrita por Walther Negrão, Glória Magadan e Hedy Maia foi a última baseada em textos estrangeiros, dando início as novelas-pastelão do horário citado.

Encerro o texto com o clipe exibido no Fantástico, em 1984, com Gilberto Gil e Chico Buarque cantando “A mão da limpeza”, para que fique evidente que nem toda vez que você vê algo parecido, você deva levar literalmente. E que NEM TODO MUNDO SABE O QUE VOCÊ SABE.





P.S.: Meus queridos leitores, vou me ausentar por duas semanas para acompanhar meu único filho, Henrique à Aubagne para servir à Legião Estrangeira da França. Faço questão de ir com ele, porque é a única lembrança boa que minha finada amada Manuela deixou. É para manter a tradição. Meu pai, Louis-Jacques Blanche lutou na Argélia, e eu  já servi à França mesmo que não tenha nascido lá.

Deixarei dois textos prontos para cumprir com as obrigações de escritor especial aqui. Volto ao Brasil dia 26!


Por: Pedro Blanche

8 comentários :

  1. Fala sério. Esse povo precisa de mais cultura.

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  2. Concordo com seu post.
    Foi muito boa sua comparação com aquela cena do Pânico. Ela me marcou muito.

    www.revistadarafa.com.br

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  3. Nunca o ditado "é errando que se aprende" foi tão atual. Até a volta Pedro!

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  4. As pessoas tem esse problema vai muito pela cabeça do outro
    Canal:https://www.youtube.com/watch?v=eNNlFtDc1-o
    Blog:http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/

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