terça-feira, 27 de junho de 2023

Desenhos retratando a pauta LGBTQIAP+ (1934 - 1990)

A comunidade LGBTQIAP+ sempre é retratada nas animações e desenhos animados desde que a televisão ainda era preto e branco e a gente não costumava perceber isso. Assim como qualquer outra, ela tem uma necessidade de ser representada, mesmo que, no princípio, de forma caricata, piegas e estereotipada. Desde 1934, alguns personagens foram adotados por conta de características e trejeitos que provocavam certa identificação. 

A criação desses ícones, no início, era para ridicularizar as características associadas aos homoafetivos. Os nomes dos personagens eram utilizados como termos pejorativos, mesmo que não houvesse confirmação sobre a homoafetividade no roteiro. Os estereótipos eram grotescos, com pequenos desvios sobre a masculinidade e feminilidade. 

Devido à censura e ao preconceito, o Pernalonga ganhou uma namorada, mesmo que utilizasse cílios, roupas femininas e batom nos lábios: Lola, uma coelha de lacinho e cílios grandes. Velma, do Scooby-Doo, era presumidamente lésbica por conta do seu visual e, adiante, inventaram um interesse forçado romântico pelo Salsicha, para abafar sua lesbianidade.

 

O post de hoje é o inicial, de uma sequência que quero fazer nas próximas edições da Pride Week. A representatividade LGBTQIAP+ segue uma ordem cronológica, que pode ser montada assim:

1934 ~ 1939 – O Código Hays
1940 ~ 1949 – Início das animações coloridas
1950 ~ 1990 – A explosão dos desenhos
1990 ~ 2000 – Introdução da TV à cabo
2000 ~ tempos atuais – serviços de streaming


No post de hoje, quero falar dos primeiros desenhos, entre 1934 à 1939 até 1990 e alguns anos depois, com a explosão dos desenhos. 

O Código Hays


Em 1933 foi criado um desenho animado chamado Flip the Frog. Na sua última temporada, nomeada Soda Squirt, surge um que é considerado um dos primeiros personagens queers (que se travestem ao gênero oposto). O personagem se transformava em monstro.  

Um ano após o lançamento, por meio do Código Hays - um conjunto de regras "morais" que deveriam ser seguidas nas mídias lançadas, principalmente em filmes -, cenas que fossem consideradas "pervertidas, de sexo ou qualquer outra coisa semelhante" seriam proibidas.

Nesse período foi criada a Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Commission) que trouxe as primeiras regulações para conteúdos televisivos. Foi um momento de ampla censura, mas os criadores de conteúdo da época utilizavam da criatividade para driblá-la. 


1940 ~ 1949 – Início das animações coloridas


As animações coloridas propuseram a inserção de elementos queers nos desenhos. Os criadores alegavam que esses fatores foram inclusos por se "tratarem apenas de um desenho, algo que não existe, com situações fora da realidade". De acordo com as regras estabelecidas, era expressamente proibido inserir dois homens se beijando num filme, mas quando Pernalonga beijou Hortelino Troca-Letras, tudo foi apenas uma brincadeira. 



A partir de então, mais elementos queers foram inseridos nos desenhos animados. O Pernalonga também se vestia com roupas femininas em outros episódios. Esse recurso era utilizado para deixar a estória mais engraçada, mas nada que representasse, de fato, as pessoas LGBTQIAP+. Imagina que quebra de tabu um personagem masculino usar batom e saia em 1940?! 




A representação nessa época tinha nada mais que um fim cômico. O mesmo ocorreu com Pica-Pau, Papa Léguas e Coiote. Essas representações podem soar como ridicularização sobre a comunidade. 



Com a representação nesses desenhos, vimos uma poluição com estereótipos e também a possibilidade dessa causa não ser levada à sério. Os personagens que apresentassem traços queer e/ou LGBTQIAP+, não eram mais retratados de forma cômica, mas vistos como vilões. É o caso da possível queer bait em Mogli, o Menino Lobo. Queer bait é um termo utilizado para mostrar quando criam uma personagem LGBTQIAP+ que não faz parte da comunidade, mas seu contexto ou características apontam para isso. 



1950 ~ 1990 – A explosão dos desenhos


Com o decorrer do tempo, as pessoas pertencentes à comunidade gostariam de se verem representadas na tela. Por esse motivo, adotavam certos personagens como parte da sigla LGBTQIAP+ mesmo que os criadores das séries animadas não confirmassem isso. 

É o caso do Leão da Montanha, que teve sua transmissão original no ano de 1961. O personagem falava de forma teatral e tinha uma personalidade masculina menos tradicional. Apesar disso não ser algo preponderante para a sexualidade ou identidade de gênero, essas características fizeram com que ele fosse um desses personagens que a comunidade acolheu. Mais tarde, em 2017, o Leão da Montanha ganhou uma HQ aonde era representado abertamente como homossexual. 

Outra personagem é a Velma de Scooby-Doo, que apareceu pela primeira vez em uma série animada em 1969, sendo considerada lésbica. Na época, a sexualidade dela nunca foi dita abertamente. Porém, em 2020, o produtor de Scooby-Doo, Tony Cervone, confirmou que a personagem é LGBTQIAP+. Isso já havia sido percebido pelos fãs que foram observando pistas nas séries animadas. 

Em um episódio de Os Simpsons dos anos 1990, Patty, irmã da Marge, diz que está noiva de uma mulher. Na abertura foi colocado um aviso de "conteúdo impróprio para menores"


A década de 1990, também conhecida como o renascimento da Disney, conta com vários personagens LGBTQIAP+, como Scar, Gaston, Jafar e Úrsula (inspirada em Divine, uma drag queen famosa nos cinemas). 






Os curtas-metragens da época possuíam maior liberdade. O animador brasileiro Otto Guerra lançou o curta Rocky e Hudson, os cowboys gays, em 1994. Apesar da representação deles reforçar mais estereótipos do que representar, já vale a pena.  



Os desenhos animados estão fazendo inovações significativas o tempo todo. A classe LGBTQIAP+ é marginalizada e ridicularizada, até mesmo nos desenhos animados. Então, quando há qualquer representação, mesmo que nas animações, a comunidade fica orgulhosa e emocionada com a identificação. J-J 





Por: Emerson Garcia

4 comentários :

  1. Não sabia que a Úrsula tinha sido inspirada na Divine, faz todo sentido! Muito interessante esse post Emerson. :)

    ResponderExcluir
  2. Caramba que post legal!!
    Eu amei.
    É legal ver os desenhos que a gente gosta muito tratando desse assunto ♥

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

    ResponderExcluir
  3. É um grande intervalo de tempo
    Excelente trabalho

    ResponderExcluir
  4. Esse post ta muito legal eu gostei demais

    Beijos
    www.pimentadeacucar.com

    ResponderExcluir

Obrigado por mostrar seu dom. Volte sempre ;)

Nos siga nas redes sociais: Fanpage e Instagram

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 

Template por Kandis Design