segunda-feira, 22 de junho de 2020

Figuras importantes para a história da comunidade LGBTQ+



Hoje (22) iniciamos a Semana do Orgulho LGBTQ+ 2020 aqui no JOVEM JORNALISTA! Serão 7 posts temáticos, acompanhe!
Em junho de 2019 foi aniversário de 50 anos  da Revolta de Stonewall (que já falamos por aqui pois foi tema da Parada LGBTQ+ do ano passado em São Paulo), rebeliões que deram início ao movimento LGBTQ+ que conhecemos hoje. Porém, muitos nomes importantes não são conhecidos por grande parte da comunidade. 

Com isso, a publicação de hoje é exatamente sobre essas pessoas. Ativistas, artistas, pessoas nas quais tiveram grande importância para o movimento LGBTQ+ em sua época. Todas somaram de alguma forma para a luta na aquisição de direitos e a visibilidade que a comunidade conhece atualmente.



A rebelião de Stonewall teve um enorme valor na história do movimento dos direitos LGBTQ+. A criação de dois grupos importantes de ativismo - o Gay Liberation Front (GLF) e o Gay Activists Alliance (GAA) - só foi impulsionado devido às revoltas. Com isso, muitos nomes acabaram se tornando importantes para o avanço dos movimentos, como Sylvia Rivera, Marsha P. Johnson e outros.


Marsha P. Johnson




Marsha P. Johnson foi uma mulher trans negra, drag queen e ativista pelos direitos LGBTQ+ nos Estados Unidos. Devido ao posto de marginalidade que era atribuído a pessoas trans na época - e ainda é -, Marsha trabalhou como prostituta em boa parte da sua vida adulta. 

Em 1970, um ano após o início das rebeliões de Stonewall, Marsha e Sylvia Rivera co-fundaram a S.T.A.R. (Street Transvestite Action Revolutionaries), uma organização parte da Gay Liberation Front (GLF), que tinha como objetivo promover os direitos das pessoas LGBTQ+ e dar apoio aos jovens travestis e transgêneros sem-teto.

No início, a sede da organização era um trailer em Greenwich Village, mas este foi removido depois de um tempo. Com isso, eles encontraram uma casa abandonada, a consertaram e passaram a morar nela. Essa casa servia de moradia para os jovens trans em situação de rua, onde essas pessoas ganhavam uma nova família.

Em toda a sua trajetória de vida após as rebeliões, Marsha lutou para a aquisição de direitos para a população LGBTQ+, mas infelizmente, no dia 6 de junho de 1992, seu corpo foi encontrado no fundo do Rio Hudson. A polícia afirmou que a causa de sua morte havia sido suicídio, contudo, seus amigos alegavam que ela não tinha tendências suicidas e diziam que ela estava sendo assediada e perseguida após a Parada LGBTQ+, dias antes do seu corpo ser encontrado. Em 2012, o caso foi reaberto como homicídio graças ao Mariah Lopez. No entanto, o caso não foi solucionado, principalmente devido a falta de interesse da polícia em investigar. 

Em maio de 2019, o prefeito da cidade de New York anunciou que uma estátua em homenagem a Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera será instalada na Praça Ruth Wittenberg, no bairro de Greenwich Village, próximo ao bar de Stonewall Inn, onde as rebeliões se iniciaram. Para quem quiser saber mais, a Netflix possui um documentário chamado A morte e a vida de Marsha P. Johnson.


Sylvia Rivera



Sylvia Rivera foi uma ativista latino-americana que lutou pela libertação gay e pelos direitos de transexuais. Ela participou da Gay Liberation Front junto de sua amiga, Marsha P. Johnson, com quem co-fundou a S.T.A.R. Acredita-se que Sylvia foi uma das primeiras pessoas a revidar o ataque policial na revolta de Stonewall.

Com descendência venezuelana e porto-riquenha, ela se tornou órfã com apenas 3 anos de idade, pois seu pai havia abandonado a família e ao chegar nessa idade, perdeu a mãe para o suicídio. Então ela foi criada pela avó, que desaprovava seu comportamento afeminado, principalmente depois dela começar a usar maquiagem. Aos 11 anos, Sylvia saiu de casa e acabou morando na rua por algum tempo, quando foi adotada pela comunidade local de drag queens, onde recebeu o nome Sylvia. 



Na noite das rebeliões de Stonewall, a luta começou com o lançamento de vários Molotovs feitos de improviso com bebidas que haviam no bar. Sylvia foi uma das primeiras a contra-atacar a força policial. As revoltas duraram três dias e foram o gatilho para a aquisição de direitos LGBTQ+ que existem hoje em dia.

Em fevereiro de 2002, no St. Vicent’s Hospital, Sylvia morreu devido a complicações de um câncer de fígado, mas seu legado vive na vida de todos LGBTQs que desfrutam dos direitos que só foram possíveis por causa da luta de Sylvia, Marsha, e muitas outras ativistas. 
Karl Heinrich Ulrichs



Karl Heinrich Ulrichs foi a primeira pessoa abertamente gay a falar sobre homossexualidade e igualdade numa época onde pouco se falava sobre isso. Em 1862, ele decidiu contar a sua família e amigos que era um "uraniano". Segundo a mitologia grega, Urano teve seus testículos cortados e lançados ao mar, o que resultou no nascimento de Afrodite.

Depois de se assumir, ele começou a escrever textos sobre o pseudônimo Numa Numantius. Em um de seus textos, denominado Pesquisas sobre o Enigma do Amor Entre Homens, Ulrichs defendia a naturalidade do amor entre pessoas do mesmo gênero, alegando ser "natural e biológico", uma psique feminina presa em um corpo masculino. Além disso, ele definiu novos termos para descrever algumas identidades de gênero e orientações sexuais, sendo Uranianos homens que têm relações homossexuais, e Dioning, homens que têm relações heterrossexuais.

Os termos definidos seguem um significado partindo da mitologia grega, fazendo referência a uma seção do Banquete de Platão em que os dois tipos de amor são discutidos. Os tipos discutem as teorias de concepção de Afrodite. Uraniano, como já mencionado, é a concepção sem uma participação feminina, pois ela nasceu da parte da divindade que foi cortada; Dioning, por outro lado, representa a concepção de Afrodite por um casal, Zeus e Dione.

Depois disso, Karl abandonou o pseudônimo e passou a publicar seus textos usando seu nome original. Em 1867, se tornou o primeiro homossexual assumido a falar em defesa da homossexualidade quando solicitou ao Congresso de Juristas Alemães que apoiassem a eliminação das leis discriminando homossexuais. Ele foi vaiado na época, mas conseguiu motivar outras pessoas a se manifestarem, e a partir disso, o tema de orientação sexual passou a ser mais discutido.


Michael Dillon e Roberta Cowell



Michael Dillon, nascido como Laura Maud Dillon, foi a primeira pessoa no mundo a fazer a transição de gênero do feminino para o masculino. Michael começou a utilizar testosterona em 1940 e em 1944 ele conseguiu alterar sua certidão de nascimento para o gênero no qual ele se identificava. 

Nos anos seguintes, Dillon fez a cirurgia de reconstrução genital, realizada pelo cirurgião Sir Harold Gillies. Enquanto passava pelos procedimentos de transição, Michael treinava para que ele mesmo se tornasse um médico.



Em 1949, Michael foi procurado por Roberta Cowell. Ele auxiliou em sua orquiectomia (remoção dos testículos). Ela também procurou pelo cirurgião Harold Gillies. A transição de Roberta a colocou na história como a primeira mulher britânica a realizar uma cirurgia de transição e ter uma vagina criada cirurgicamente, realizada por Gillies em 1951. Cowell faleceu recentemente, em 2011, com 93 anos de idade.


Simon Nkoli



Simon Nkoli foi um ativista gay e líder anti-apartheid que lutou por justiça social e liberdade na África do Sul. “Se você é preto e gay na África do Sul, então está realmente no mesmo armário… Dentro há escuridão e opressão. Fora há liberdade” é uma de suas frases marcantes. 

Durante sua vida, Nkoli facilitou a troca entre o grupo anti-apartheid e o Movimento da Libertação Gay, mostrando como as lutas tinham um objetivo em comum nas suas lutas por igualdade. Todo o seu trabalho com organizações como Gay Asociation of South Africa (GASA) e the Gay and Lesbian Organisation of the Witwatersrand (GLOW) deu o pontapé inicial para que a África do Sul se tornasse um dos primeiro países a constitucionalizar a proteção de direitos LGBTQ+.


Luiz Mott



Luiz Mott é um historiador, antropólogo e pesquisador brasileiro. Ele é um dos ativistas mais conhecidos na luta para a aquisição dos direitos LGBTQ+ no país. Ele foi considerado um dos gays mais poderosos do mundo em uma lista feita pela revista americana Wink. Além disso, Mott é fundador do Grupo Gay da Bahia, um dos principais grupos que lutam em prol dos direitos humanos da comunidade LGBTQ+ no Brasil. 

Em entrevista a Rádio Metrópole em junho de 2019, Luiz referenciou a frase de um escritor francês homossexual e disse: “Para mim, a homossexualidade foi uma graça, porque me tornei mais gracioso e ajudei muita gente. Muita gente deixou de se matar e de ser infeliz graças à minha militância no Grupo Gay da Bahia”

Ainda, Mott afirma que nos casos de crimes de ódio contra minorias, o sujeito não quer matar apenas o indivíduo: "No caso dos gays, os assassinos tem sua homossexualidade mal resolvida. Como ele não pode, ele mata aquele o que é espelho deles. Há delegados que já disseram isso".


Marielle Franco



Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, foi uma mulher negra, bissexual, mãe e moradora da favela da Maré. Filiada ao PSOL, se elegeu vereadora do Rio de Janeiro, com a quinta maior votação para legislar entre 2017-2020. Também foi Presidente da Comissão da Mulher da Câmara. 

Em 2000, Marielle começou a militar por direitos humanos após uma amiga sua ser atingida num confronto entre policiais e traficantes na Maré. A partir de então, Franco partiu em busca da aquisição de direitos para a comunidade LGBTQ+ e para mulheres. 

No dia 14 de março de 2018, Marielle foi assassinada em um atentado ao carro que estava, junto do seu motorista, Anderson Pedro Gomes. O crime, ainda não solucionado, movimentou muitas pessoas em protesto com a frase “Quem mandou matar Marielle?”, gerando muita polêmica nas mídias.


João W. Nery




João W. Nery foi um psicólogo, escritor brasileiro e o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil em 1977. Em 1975, João estava viajando pela Europa de trem. Então ele visitou uma livraria em Paris onde encontrou uma revista científica chamada Sexualité. Nesta revista havia um artigo onde um médico discutia as cirurgias de redesignação sexual, falando sobre como a cirurgia feita em mulheres poderia ser adaptada para homens. 

Ele retornou o Brasil e começou um mestrado em Psicologia, além de dar aula em faculdades. Na época, a cirurgia não era feita no Brasil pois era considerado mutilação. No Hospital Moncorvo Filho, ele procurou um endocrinologista indicado por sua amiga e foi onde iniciou os exames clínicos para lhe encaixarem no tratamento cirúrgico. 


A princípio ele não conseguiu. Sua família se opôs a cirurgia, assim como o psiquiatra que ele consultou para receber a autorização para realizá-la. O psiquiatra não acreditava que a transexualidade existia. Recomendado pelo seu médico, ele procurou outro psiquiatra que foi a favor. 

A cirurgia foi realizada em São Paulo, de maneira completamente clandestina, sem ficha médica. Logo depois, ele iniciou a hormonoterapia. A cirurgia realizada não retirou os ovários e o útero e o responsável não sabia quem poderia fazê-lo. 

Nery participou de vários procedimentos experimentais já que no Brasil não haviam protocolos e nem estudos estabelecidos para esse tipo de cirurgia. Um obstetra e ginecologista conhecido da família que realizou as cirurgias restantes. 

Ele escreveu um livro chamado Viagem Solitária – Memórias de um Transexual, que relata a descoberta de sua identidade, dos tratamentos, da aceitação dos amigos e familiares. Um projeto de lei dos deputados Jean Wyllys e Erica Kokay leva o seu nome. 

Em agosto de 2017, João descobriu um câncer no pulmão e se submeteu a quimioterapia. Em 2018, ele divulgou que o câncer havia atingido o cérebro e ele morreu um mês depois em Niterói, aos seus 68 anos. 



Laerte Coutinho



Laerte Coutinho é uma das quadrinistas mais conhecidas no Brasil. Alguns de seus personagens mais famosos são Overman e os Piratas do Tietê. Ela participou de várias publicações como o Balão e o Pasquim, além de revistas como a Veja e a Istoé, e jornais como Estado de São Paulo e Folha de São Paulo

Em 2012, Laerte fundou a Associação Brasileira de Transgêneros que tem como o objetivo, segundo o próprio site, congregar pessoas transgêneras, seus familiares e amigos, assim como profissionais e pesquisadores interessados na temática de transgeneridade. 

Segundo palavras da própria Laerte, ela se considera uma pessoa trans: “Não sou mulher, sou uma pessoa trans. Tenho essa vivência no feminino, mas não sou uma mulher. Inclusive, isso é objeto de alguma hostilidade, como se eu estivesse pretendendo ser reconhecida como uma mulher ‘100% mulher’, coisa que não existe. Me apresento como uma pessoa transgênero, uma mulher trans”. Ainda segundo a própria, ela diz que não tem problema em ser pai e em ser avô: “Não tenho problema em ser pai, não tenho problema em ser avô também, e sou uma mulher. O meu neto entende isso, sabe disso. Ele tem um jeito muito engraçado de formular isso: ‘Você é menino e menina, né?’. Eu digo que sou”.

Em entrevista, ela conta que não passou por muitas transformações para se assumir uma pessoa trans: “Em termos de cabeça, nenhuma. Eu não virei outra pessoa, sou a mesma pessoa, mais satisfeita, mais tranquila, e, por causa disso, estou pensando melhor. Meu trabalho não se transformou porque agora sou mulher. Se transformou porque agora estou tranquila em relação às coisas que eram angustiantes para mim e eu não sabia”.


Iran Giusti




Por fim, mas não menos importante, temos Iran Giusti. O jornalista é criador de uma das casas de suporte à população LGBTQ+ em São Paulo: a Casa1. Em 2015, Iran abriu as portas do seu próprio apartamento para abrigar membros da comunidade que haviam sido expulsos de casa devido a sua orientação sexual ou identidade de gênero. Como o número de pessoas buscando ajuda foi muito grande, ele decidiu procurar uma casa que pudesse funcionar como um centro de acolhimento. 
Então nasceu a Casa1, um espaço que recebe pessoas da comunidade LGBTQ+ em situações de risco. Em discurso, declara: “Mas acolher é mais do que oferecer um teto, é também trazer oportunidades e socialização para a vida dessas pessoas e, por isso, a Casa 1 será também um centro cultural e um espaço de palestras, cursos e worshops, tanto para os moradores quanto para o público em geral”. Em 2019, o local foi ameaçado de fechar devido a dificuldade de manter o funcionamento, mas por conta da doações, ele ainda continua ativo.




Essas foram algumas personalidades que ajudaram na aquisição de direitos, na proteção, assim como nos marcos históricos que atingiram a comunidade LGBTQ+. Existem muitas outras que foram igualmente importantes, contudo a publicação ficaria gigantesca se falasse de todas. 

A mensagem que quero passar é que não há aquisição de direitos sem luta. As manifestações são importantíssimas para conseguirmos qualquer tipo de avanço na direção de melhorias, em qualquer sentido. Seja na saúde, na educação, em direitos humanos. A luta não pára nunca. Sempre há o que melhorar. Então, não desista! Até amanhã com o segundo post dessa Semana! J-J


Por: Thiago Nascimento
Ilustrações: Milena A. Soares

10 comentários :

  1. Parabéns pelo post. Este tipo de direito precisa ser conquistado por esta classe tão perseguida. Que a luta continue sempre, para alcançarem os direitos que a classe tem de conquistar na marra. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Elogiável publicação. Não é de todo a minha praia mas, defendo todo o ser humano, que luta por um direito em que acredita.
    .
    Tenha uma segunda-feira de Paz e Bem
    Cumprimentos

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  3. que lindo post, tão lindo de se ver toda essa luta e conquista

    beijo
    A mina de fé

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  4. Que post incrível. É muito bom poder conhecer um pouquinho de cada um deles, nessa luta tão importante.

    Beijo.
    Cores do Vício

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  5. Oie Emerson! Essa postagem está super documental... Eu amei!!
    Faça mais posts nesse estilo.
    Bjus!👏👏❤🍃

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  6. Só conheço a Marielle!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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  7. Gostei de conhecer a velha guarda!
    Maravilha de artigo.
    Parabéns!

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  8. Só conhecia Marielle e Laerte. Gostei de conhecer os outros e esse tipo de publicação é muito importante.

    Beijos/Kisses.

    Anete Oliveira
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