quinta-feira, 21 de março de 2019

Quinta de série: Os dias eram assim

Pode conter spoilers!







No Quinta de série desse dia apresento a produção Os dias eram assim. Exibida entre 17 de abril e 18 de setembro de 2017, esta foi uma supersérie produzida pela Rede Globo que contou com 89 capítulos. Apresentada na faixa das 23 horas e com censura de 16 anos, fora escrita por Ângela Chaves e Alessandra Poggi, com direção geral e artística de Carlos Araújo. O elenco teve a presença de Sophie Charlotte, Renato Góes, Maria Casadevall, Gabriel Leone, Cássia Kiss Magro, Marcos Palmeira, Letícia Spiller e Carla Salle. 

Os dias eram assim foi o primeiro produto da emissora considerado como supersérie, ou seja, uma obra com similaridades de novela e série ao mesmo tempo. Esta supersérie assumiu o que se conhecia até então como novela das onze

A supersérie tem como pano de fundo os anos 1970 e 1980, quando o Brasil passava pela chamada ditadura militar. Nela conhecemos o casal Renato Reis e Alice que se apaixona, mas que passa por dificuldades, que envolve o momento político da nação da época. Além dessas dificuldades, eles também devem vencer a fúria e o ódio de Vitor, ex namorado de Alice, que não gosta nada da ideia da aproximação dos dois e arma sempre para separá-los.

A produção é mais que uma história de romance e dificuldade, mas de luta, ideias políticos e um retrato de como a sociedade se portava. Os dias eram assim foi uma obra corajosa por mostrar sem filtros ou edições a realidade da época. E que realidade era essa?! As torturas, exílios, paixões proibidas, tentativa de mudar o sistema, o processo de Diretas Já, o tri mundial da seleção brasileira, a descoberta da Aids etc. 




Desse modo, Os dias eram assim é uma história de romance, mas também de luta, de busca por ideias e de tentativa de mudança política e social. O interessante é que a trama aborda o auge da ditadura militar e o seu fim nos anos 1980 (Ela abrange os anos de 1970 até 1984), com detalhes e informações - vídeos, documentos, mídias e jornais da época. 

Em ODEA acompanhamos o drama de Alice e Renato que se amam, mas que não podem ficar juntos por questões políticas. Idealistas e sonhadores, mesmo com os empecilhos da vida, procuram mudar a realidade ao seu redor, mesmo com a distância e o passar dos anos. Será que esse amor tem o poder de vencer um regime político tão forte?! Será que com o decorrer dos anos e longe um do outro, Alice e Renato ainda se amam? Perguntas que só quem assistiu ou assistirá a supersérie pode responder. 


Personagens


A supersérie contou com duas fases distintas: a primeira de 1970 à 1979 e a segunda de 1979 à 1984. Com o passar dessas fases, alguns atores mudaram e outros se mantiveram. Selecionei personagens marcantes da trama. 




Alice: protagonista da trama. É uma estudante idealista e questionadora que se apaixona por Renato, mas que é afastada dele por vários motivos. 





Renato: também protagonista da trama. É um médico idealista, sempre disposto a ajudar e salvar vidas. Se apaixona por Alice, mas tem que se afastar dela e ir morar exilado no Chile. 





Vitor: vilão e antagonista da trama. É o ex namorado de Alice, que afasta ela de Renato junto com a ajuda de Arnaldo. 





Rimena: médica chilena que se encontra com Renato quando ele vai para o Chile. Os dois constituem uma família e tem um filho. 





Gustavo: irmão de Renato. É estudante, músico, que luta pelos seus ideais e contra a ditadura militar. Em um momento da trama é preso. 





Túlio: jovem idealista e amigo de Gustavo. É contra a ditadura e planejou ao lado do amigo o atentado contra uma construtura que apoiava o movimento da época. 





Vera: viúva e mãe de três filhos - Renato, Gustavo e Maria. É dona de uma livraria em Copacabana. 





Arnaldo: dono da construtora Amianto e apoiador da ditadura militar. É pai de Alice e Fernanda e fará de tudo para que sua primogênita (Alice) se case com o magnata e advogado Vitor. É ambicioso e inescrupuloso. 





Cora: é a mãe do vilão, Vitor. Extremamente oportunista e interesseira. 





Fernanda: conhecida como Nanda, é a irmã mais nova de Alice. Extremamente boêmia, gosta de viver a vida como se fosse seu último dia. Ela adquire Aids em uma época que a doença era pouco conhecida. 


Questões políticas


A trama aborda a questão política, passando pelos Anos de Chumbo. O interessante é que a Globo retratou a época de forma verossímil, ao contrário do que aconteceu na realidade, quando ela apoiou o movimento. Então, essa série é uma forma de retratação do canal. 

Torturas são apresentadas de forma realística. Há bastante sangue, violência e assassinatos desmedidos. Desse modo, a série não é nenhum pouco leve e light. Ela mostra e personaliza os torturadores da época em personagens como Arnaldo (Antonio Calonni), Vitor (Daniel de Oliveira) e Olavo Amaral (Marco Ricca). 

A Globo obteve êxito em criticar o movimento político que, alguns dizem, ter a ver com os dias atuais de nossa sociedade. Há quem fale que os dias eram assim, estão assim e tendem a ficar assim. Então, a produção critica a censura, exílio e a falta de democratização. 

Para amenizar sua posição de apoiadora da ditadura militar, a Globo utilizou o recurso de edição de reportagens em que, claramente, retratava somente um lado das Diretas Já

Outra questão política muito forte são os movimentos estudantis, em que pessoas idealizavam  e eram a favor da democratização do país. 


Questões sociais


A série inicia-se com a comemoração do tricampeonato da seleção brasileira. Um momento de alegria, descontração e felicidade, que contrastava com o que acontecia no país. Seria possível comemorar um título em meio à exílios e torturas?! Não sei como o governo se aproveitou desse título na época, mas deve ter utilizado de forma positiva, de modo a enaltecer a nação e só mostrar seu lado bom. 

Também merecem destaque, as criações artísticas - seja por meio de livros, músicas, televisão ou teatro - que mesmo em uma época de extrema censura, ainda se conseguia produzir bons conteúdos. 

Por outro lado, o movimento de libertação sexual estava em alta, em que as pessoas buscavam o prazer à qualquer custo. Desse modo, a obra discute a bissexualidade e a homossexualidade. 


Aids



Um dos melhores temas tratados pela produção foi a Aids. Na época em que a trama se passa a doença ainda estava em descoberta e não havia os remédios (coqueteis) de tratamento disponíveis. A trama apresentou todo esse drama através da história de Nanda, uma jovem apaixonada pela vida que a viu se transformar com a descoberta da doença. A interpretação e maquiagem do personagem merecem destaque. 

Na época que se passa a história, foi quando perdemos Renato Russo e Cazuza para a doença, dois astros do rock nacional. 


Abertura e trilha sonora


A abertura conta com a trilha sonora Aos nossos filhos, de Ivan Lins e é incrível e curiosamente cantada pelos protagonistas da trama: Sophie Charlotte, Renato Góes, Gabriel Leone, Daniel de Oliveira e Maria Casadevall. Fiquei sabendo disso no último capítulo, quando a trama foi encerrada com eles cantando nos bastidores. 





Achei interessante a iniciativa de atores da trama cantarem a trilha sonora. Seria plausível que outras tramas fizessem o mesmo. 



Audiência


A audiência da supersérie oscilou entre 22,7, 27, 26 e 23 pontos. - números bastante expressivos. Sua média foi de 21 pontos e a trama bateu recorde de 32 pontos

Os dias eram assim foi uma das tramas das onze mais assistida desde que o horário de fora criado. Verdades Secretas detinha esse recorde com 20 pontos de audiência. Já Os dias eram assim 21 pontos. 



Crítica

A trama apresentou uma temática inovadora, mas que não traduziu fielmente sua complexidade nos capítulos. As autoras preocuparam-se mais em destrinchar a história de romance do casal de protagonistas, que relatar com profundidade a ditadura militar. Esses fatos foram tratados de forma simplória, pasteurizada e movidas por clichês que podem, ou não, ser confirmados. 

Contudo, em seus momentos de contextualização histórica  a trama resgatou reportagens, imagens e músicas da época, em uma documentação até que relevante. O pecado encontrou-se quando foi incorporada à trama uma música que somente foi lançada em 1986, Tempo Perdido, sendo que a trama foi até 1984. Mesmo com esse impasse, não poderia deixar de citar a música de Renato Russo tão bem representada por Thiago Iorc. 






Algo que pode ter atrapalhado a trama também foi sua duração (89 capítulos). Há quem diga que não era necessário essa quantidade de capítulos e que ela poderia ser mais enxuta.

Os dias eram assim possui boas cenas, ganchos e cliffhangers, mas não podemos esquecer que trata-se de uma obra de ficção. J-J






Por: Emerson Garcia

23 comentários :

  1. Não conhecia essa série, mas parece ter sido bem boa.

    Beijo!
    Cores do Vício

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  2. Desconhecia mas penso que iria gostar!!!
    Bj e obrigado pela informação

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  3. Aborda até temáticas legais, mas não curti JJ...

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  4. Oi JJ
    Essas séries são óptimas para mostrar ao público jovem a história recente do país, aqui em Portugal os jovens não conhecem a história recente nem os personagens dessa história, seria interessante fazer-se algo parecido cá, pois também houve tortura.
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    Respostas
    1. Espero que a Globo Internacional faça algo voltado para a história do seu país. Seria interessante.

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  5. Eu não cheguei a assistir a serie mas conheço ela sim porque meus pais assistiram.
    Bom post, beijos <3

    https://lesjoursdemarcela.blogspot.com/

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  6. Parece uma série que nos transporta para momentos de historia não muito longínqua
    acho preferível quando não se usa as cenas de violência pelo poder de atração que ela produz nos espetadores (incluindo cenas de tortura), mas que se refira a ela em termos de esclarecimento…

    o século XX foi terrível a nível mundial em termos de guerras: revoluções russa e chinesa, duas guerras mundiais, guerras das independências em Africa e consequentes guerras civis (guerra fria), guerras na Asia (Vietnam, Camboja), ditaduras na Europa (Alemanha, Espanha, Italia, Portugal) e na America central e do sul, guerra dos Balcãs, um sem fim de tragédias...

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    Respostas
    1. Acredito que eles tentaram ser verossímeis com a época tratada. Realmente o século XX foi marcante.

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  7. I like these kind of stories with everything in them. Great plot!

    www.fashionradi.com

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  8. Não vi a Série toda.
    Aliás, vi raros episódios porque era num horário muito tarde.
    O tema abordado era tendencioso.
    E eles fazem questão de não mostrar o lado bom deste período da vida brasileira.
    Para meu pai foi um período de tranquilidade.

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  9. Não sei se passou em Portugal...
    Eu era pequenina, não me lembro. Mas gostei do post sobre a série.
    Achei a trilha sonora muito bonita e acho original ter sido cantada pelos actores.
    Obrigada
    Beijinho

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  10. Uma série bem interessante, com um lote de excelentes actores!...
    Mais uma excelente sugestão! Dando a conhecer uma época... que se calhar... não estará tão longe assim...
    Abraço
    Ana

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