sexta-feira, 30 de junho de 2017

A comunidade LGBTQ+ e a Religião




Esse, talvez, seja o post mais polêmico dessa semana. A convergência e o diálogo entre esses dois pólos é algo complicado, mas nós - Emerson Garcia e Thiago Nascimento - nos encorajamos a falar desse assunto tão espinhoso. Esse texto não tem o objetivo de discutir a bíblia, de formar paladinos e heróis, ou mocinhos e bandidos. Mais do que promover um embate, queremos, sim, o debate de várias questões e pontos relevantes. 

Desse modo, falaremos dos seguintes temas em forma de tópicos: Ser gay é pecado?; É possível ser LGBTQ+ e religioso?; Como acolher fiéis gays?; e Teologia inclusiva


1- Ser gay é pecado?






Segundo alguns sacerdotes católicos e evangélicos, a resposta para essa pergunta é não. “Orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação”, é o que afirma o bispo dom Maurício Andrade. No outro lado da história, o pastor Silas Malafaia insiste em pregar repetidamente o mesmo texto conservadorista: “Homossexualidade na Bíblia é pecado. Pode tentar forçar, mas é pecado”.

Ainda rebatendo esse pensamento do pastor, o bispo diz que não há nenhuma menção à homossexualidade no Novo Testamento e que há várias passagens que pregam a inclusão. “É muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus”, conclui.

Em março de 2011, o arcebispo Desmond Tutu lançou um livro denominado Deus não é cristão e outras provocações que conta com um texto sobre a inclusão dos homossexuais na igreja (com grifos):


Todo ser humano é precioso. Somos todos parte de uma família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são”.






Uma escola católica tratou o casamento gay como algo pecaminoso. Um aluno resolveu contestar com uma tese de 127 páginas escrita de janeiro a maio desse ano (com grifos e acréscimos):

“Eu frequento uma escola católica e eles queriam que eu escrevesse um trabalho sobre como casamentos gays são ‘errados e perigosos’. Em vez disso, escrevi essa tese ("Casamento gay é fabuloso") de 127 páginas."


Durante 127 páginas (que podem ser lidas aqui), o aluno refutou o trabalho proposto com diversas citações bíblicas e de estudiosos. Para ele, a Bíblia não condena a homossexualidade e incentiva o amor por várias vezes (com grifos): 


“Fica evidente a partir desse estudo que Cristo jamais condenou a homossexualidade. Deus também não, e nem a Bíblia. [...] Não há evidências de que a Bíblia condena relacionamentos amorosos, e sim a luxúria, a violência e a ganância. [...]

Deus criou a você e não cometeu erros. Deus me fez gay e não cometeu erros. ‘Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças’ (Timóteo Cap. 4 Vers. 4). O casamento não é entre homem e mulher, mas entre amor e amor. O amor não é errado e nem um engano. Nem é uma abominação. Amor é apenas amor."



Na opinião do bispo dom Maurício, a interpretação bíblica que condena a homoafetividade é errônea:

Quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos.”



2- É possível ser LGBTQ+ e religioso?







Antes de tudo, religião é diferente de ser religioso. É possível fazer parte de uma religião e não ser religioso e vice-e-versa. Ser religioso depende do indivíduo, não da religião. Fé e crença em algo sobrenatural são coisas adquiridas com um relacionamento íntimo com Deus, que podem, ou não, ocorrer em um templo. 

Desse modo, é possível ser LGBTQ+ e religioso, pois a fé e a intimidade são próprias de cada pessoa. Eu não posso interferir na sua forma de crença e como você é religioso, nem você na minha e como eu sou. Você não pode julgar minha interpretação de religião, muito menos eu a sua. Quem é capaz de julgar alguém assim: Deus não o ouve, por causa da sua forma de se portar, de se vestir, de ser e por conta de sua escolha sexual? Ninguém, já que trata-se de um relacionamento íntimo que não lhe diz respeito. 

A religião cria dogmas, estereótipos e rituais. Quando falamos de ser religioso estamos falando de uma esfera bem distinta. Falamos de dogmas, estereótipos e rituais que mudam de pessoa pra pessoa. 


3- Como acolher fiéis gays?


Continuando as sequências de polêmicas, precisamos falar urgentemente sobre como os fiéis de várias religiões aceitam a comunidade LGBTQ+. Convivemos no dia a dia com pessoas como o pastor Feliciano, que insiste em dizer que pessoas homossexuais não podem e não devem fazer parte da comunidade cristã, a menos que “se cure”. Toda essa questão de cura é assunto para outra hora.

Ao contrário de pessoas como o pastor, existem aqueles que aceitam e ajudam a comunidade LGBTQ+. Como foi o caso de um pastor homossexual e seu marido, que criaram uma igreja para acolhê-la, visto que esta ainda sofre muita exclusão da comunidade cristã. Em sua igreja 90% dos frequentadores são homossexuais. 

Em nossa opinião, isso não é muito certo, porque embora faça com que essas pessoas possam frequentar uma igreja de sua religião, promove uma separação ainda maior entre a comunidade LGBTQ+ e a Igreja.

Mesmo depois da aceitação por parte da Igreja, eles ainda tem que passar pela aceitação dos pais, que muitas das vezes também são cristãos e de outras igrejas que ainda abominam a homossexualidade. Como já disse o bispo dom Maurício Andrade: 


“Todo ser humano é precioso. Somos todos uma parte da família de Deus."



4- Teologia inclusiva






Atualmente, a teologia inclusiva tem se disseminado no Brasil e no mundo, com o objetivo de aceitar e acolher a comunidade LGBTQ+. Esta é praticada, em sua maioria, não por comunidades religiosas tradicionais, mas por atores do próprio gueto LGBTQ+, que se dispuseram a incluir pessoas de sua mesma condição em um ambiente religioso. E o que seria teologia inclusiva?

Veja como conceitua o livro Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos (com grifos):

"A Teologia Inclusiva, como a própria denominação sugere, é um ramo da teologia tradicional voltado para a inclusão, prioritariamente, das categorias socialmente estigmatizadas como os negros, as mulheres e os homossexuais. Seu pilar central encontra-se no amor de Deus pelo homem, amor que, embora eterno e incondicional, foi negado pelo discurso religioso ao longo de vários séculos."


De acordo com o excelente texto O arco-íris invade o céu do UOL disponível aqui a teologia inclusiva é o refúgio de muitos da comunidade LGBTQ+, mesmo com questionamentos:

"A teologia inclusiva se apresenta como a única forma de os gays terem uma vida religiosa plena, mas até internamente essas igrejas sofrem dilemas: são santuários de gueto ou de transição? Esses templos recebem também heterossexuais, mas ali eles são minoria." 



A teologia inclusiva prega a inclusão a partir da contestação de partes da Bíblia, o que pode soar como uma atitude militante gay. Por que não incluir essa comunidade, a partir do discurso bíblico do amor? Por que é preciso contestar a Bíblia? Isso pode ocasionar mais embates entre esses pólos.

Talvez essa teologia inclusiva - que relê, reinterpreta e resiginifica trechos da Bíblia - não seja mais adequada. O termo poderia ser bem aproveitado se trabalhasse de forma massiva a inclusão. 

Quando lemos os outros verbetes que significa a mesma coisa, a situação torna-se mais preocupante: teologia queer e teologia gay. Acreditamos que não é preciso criar uma Bíblia gay (Tem até alguns projetos para tirar trechos ditos 'homofóbicos' do livro sagrado e criar outro livro!) e conceitos religiosos gays para fazer com que a comunidade LGBTQ+ seja inclusa na religião.


Para aqueles que acham que sua interpretação da Bíblia é única, saibam que você não é a última Fanta do engradado e, além disso, Deus não separa ninguém. Somos todos filhos Dele. Deus curte minorias. Então, vamos parar com essa palhaçada porque somos todos humanos. Se ser gay é pecado, você que julga uma pessoa pela sua sexualidade (que não é algo que a pessoa escolhe), também está pecando de uma certa forma. Sejamos felizes. Os gays só querem viver em paz. Viva o amor! J-J





Por: Emerson Garcia e Thiago Nascimento

7 comentários :

  1. Com certeza uma ótima "discussão" para fazermos. Afinal, temos que tirar esses preconceitos, que muitas vezes são resultados de religiões muito extremistas..

    http://www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Exato. E não é uma discussão com o intuito de sair vencedor, mas colocar pontos importantes.

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  2. Eu acho que uma frase da Bíblia resume tudo "Ame ao próximo como a si mesmo". Jesus foi capaz de salvar Maria Madalena, prostituta, porque ele odiaria os gays? Gostei muito do jeito como você conduziu essa discussão.

    www.vestindoideias.com

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    Respostas
    1. Ótimo que gostou! O exemplo que deu de Madalena foi pertinente.

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  3. Eu tô amando esses posts sobre a comunidade LGBTQ+! Acho muito interessante mesmo esse debate, inclusive uma das razões pelas quais eu deixei de ser católica foi essa aversão que existe por LGBTQ+, eu não concordava e não me sentia bem vinda lá e decidi abandonar, mas sem nunca abandonar Deus, claro. No entanto, não acho que seja preciso criar uma Bíblia Gay também haha acho que a Bíblia em si foca no amor e principalmente no amor ao próximo e enquanto todos nós focarmos nisso, tá tudo ok. Adorei o debate!
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

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    1. Que bom que gostou do debate. Você sair do catolicismo não significa que você deixou de ser religiosa ou católica.

      Muito boa sua opinião sobre a Bíblia gay.

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