segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Rosa e Azul: cor tem ou não gênero e as convenções sociais



A discussão do momento tem a ver com duas cores: o rosa e azul. A frase "O Brasil está em uma 'nova era', em que meninos vestem azul e meninas vestem rosa" dita pela ministra de Mulheres, Família e de Direitos Humanos, Damares Alves, ecoa nas principais rodas de conversas. Há aqueles que entenderam a frase no sentido literal e outros que a entenderam como uma metáfora.

Claro que a declaração tomou foco na mídia e atingiu famosos, celebridades e internautas, que se posicionaram a favor e contra a fala da ministra. 

Em tempos de transição drástica de governo e pensamentos, a fala da ministra pôde ter soado como partidária, segregadora e preconceituosa. Essas podem ter sido as primeiras impressões, mas quero desconstruir isso nesse post.


Uma metáfora







Segundo a ministra, pastora e advogada o que ela realizou foi uma metáfora. E o que é uma metáfora? É quando alguém diz algo com outra intenção e/ou objetivo. Desse modo, ao se falar que meninos usam azul e meninas rosa, ela quis dizer que é contra a ideologia de gênero e apenas isso. Não tem nada a ver com cores. Leia o que ela disse (com grifos):

"Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores. Se quiserem, mamães e papais podem vestir as crianças com roupas coloridas".


Em outras palavras, o que ela quis dizer foi o seguinte: Olha, as cores podem ser usadas por meninos e meninas. Não há restrições quanto à isso e que usar roupas coloridas não é o mesmo que uma menina usar roupa de menino e vice-e-versa. 

Tanto foi uma metáfora a frase de Damares, que ela apareceu em público com uma roupa azul. Se fosse no sentido literal o que havia dito, ela não poderia usar a cor. A secretária da Família, Angela Gandra Martins, defendeu a fala da ministra (com grifos):


"O que ela quer dizer é que a gente vai procurar acentuar o que é próprio de cada um. A gente não vai construir uma outra identidade esquizofrênica dentro dela, vai respeitar o que é natural naquele ser humano."



Ou seja, os Direitos Humanos acima de qualquer ideologia. 



O vídeo


Damares aparece no vídeo de forma animada e convicta até que diz a frase célebre. Assista:





Há um entusiasmo das pessoas que estão ao redor da ministra quando ela fala a frase e eles chegam até mesmo a repeti-la. No fundo, a bandeira de Israel aparece - uma flâmula de uma das regiões mais religiosa do mundo. Posso inferir que essa nova era que Damares verbaliza tem a ver com os Direitos Humanos, inclusive das crianças, preservados e intactos. Acredito que mesmo que a bandeira israelense tenha aparecido, a filosofia não tem a ver com religião, mas com movimentos políticos subliminares. 



Príncipes e princesas



Em um momento que de acordo com propagandas da Avon meninas não podem ser chamadas de princesas e elogios devem ser repensados e reconfigurados, Damares prega a ideia que garotas devem ser tratadas como PRINCESAS e garotos, como PRÍNCIPES, e não vice-e-versa. Esta também é uma significação para a frase da ministra

As campanhas da Avon, publicadas em meados de 2018, foram criticadas pelos conservadores, que as consideraram ideológicas e tendenciosas em demasia. Para a Avon, meninas deveriam ser chamadas do que elas quiserem:






A fala da ministra vem para quebrar com todos esses paradigmas e padrões que foram empregados de forma forçada. O interessante é, que se por um lado prega-se a ideologia de gênero, por outro brinquedos de menina são rosa e os de menino azul. Meninos, de acordo com a Omo, são aventureiros e brincam de bicicleta e garotas, são doces e frágeis. 

Acredito que mesmo com toda essa imposição será difícil reverter alguns conceitos já tão impregnados na sociedade.


Convenções sociais


Realmente as cores não possuem gênero e a ministra quis dizer exatamente isso. Houve uma época que meninos usavam rosa e meninas azul e tantos meninos quanto meninas usavam vestido até o primeiro corte de cabelo. 

O fato é que a questão do rosa e azul é mais cultural e propagandista, do que biológica. Convencionou-se assim. No texto Azul é a cor mais rosa, publicado em 2016, falei sobre isso:

"A ideia das cores para cada gênero só surgiu no início do século 20 e era o inverso da atual (rosa para meninos e azul para meninas). Somente entre 1920 e 1950, que as lojas inverteram isso, para aumentar as vendas."


Tais convenções sociais podem ter levado ao preconceito de um menino não usar um acessório ou uma vestimenta na cor rosa, embora esta signifique força e coragem. Além disso, não poderia usá-la por uma questão de marketing. Não foi a Damares que delimitou o uso das cores, mas a sociedade




Inspirações de decorações para o Chá de Revelação (da esquerda para a direita): 1 - bolo com recheio; 2- balões; 3- bigodes e lacinhos; e 4 - placar. 



Falei das cores de brinquedo para cada gênero, mas até mesmo o Chá de Revelação possui convenções sociais: balões, sprays, ovos ocos, bolo e elementos azuis caso o bebê seja menino; balões, sprays, ovos ocos, bolo e elementos rosas, na ocasião se for menina. Por que esses ideológicos de plantão não fazem o chá de revelação com inversão de cores? Por que, se cor não tem gênero, no chá de revelação, sim?! Por que ninguém ousa, mesmo com ideais de gênero, presentear a grávida que espera um menino com um enxoval rosa? Respondo: por que já temos conceitos e ideais impregnados em nossa sociedade.

O Youtuber Jonathan Nemer satirizou o Chá de Revelação em um vídeo em seu canal, o Desconfinados. Veja:





Não adianta um famoso lacrar nas redes sociais de rosa, sendo que costuma vestir sua filha negra de rosa. Não adianta uma moça vestir-se de azul e presentear sua afilhada com um enxoval todo rosa bebê. Há, nesse sentido, uma hipocrisia descarada.


Hipocrisia







O ator Bruno Gagliasso protestou contra a frase da ministra com uma blusa MANIPULADA rosa, de acordo com o maquiador Agustin Fernandez:


"A hipocrisia e a vontade de lacrar são tão grandes que não tinha nenhuma camiseta rosa no armário, daí editou uma foto velha"


Este foi um protesto por conveniência, com o objetivo único de aparecer e gerar cliques.

Em outra ocasião, Bruno Gagliasso aparece vestido de unicórnio AZUL e sua esposa, Giovanna Ewbank, de um ROSA. Tem alguma coisa errada, não?! Será que o Bruno segue convenções sociais? Em minha opinião, é claro que segue e só quer 'lacrar', como dizem por aí. 





Assim como Bruno, outros famosos resolveram protestar contra a fala da ministra.


#Cornãotemgênero





A hashtag #Cornãotemgênero tomou de conta das redes sociais. A jornalista da Globo News, Andréia Sadi, protestou de azul em uma entrevista com a ministra Damares; famosos como Luciano Huck, Mônica Iozzi, Fernanda Paes Leme, Maria Gadu e Leilane Neubarth em seus protestos enfatizaram que cor não possui gênero.

Em minha opinião, este foi um protesto desnecessário. Vimos que a fala da ministra foi metafórica e não literal. 




Ouvi uma vez de alguém que, na verdade, realmente as cores não tem gênero ou sexo, mas sim as pessoas. O mesmo com as roupas: elas não possuem gênero, mas sim os seres humanos. 

Acredito que ninguém pode dizer que rosa é de menina e azul de menino, mas a própria convenção social, como falado anteriormente, não nos permite que demos um tênis rosa para um menino e quando vemos um menino com uma camisa rosa na rua ainda há aquelas falas maldosas que dizem que "rosa é cor de menina" e que "o menino que usa rosa é veado".

Enfim, cor não tem gênero, mas as pessoas sim e uma menina diz "obrigada" e um menino "obrigado", como em uma imagem do Gran Cursos divulgada.








Use a cor que quiser





Meninos e meninas podem usar rosa, azul, preto, branco, verde, branco, vermelho, lilás, marrom e outra infinidade de cores. As cores são universais e não possuem gênero. Cor alguma pode definir uma pessoa ou sexualidade. Escolhas de cores não definem quem você é. Contudo, não podemos deixar de negar as convenções sociais já bastante consolidadas na sociedade. J-J 



Por: Emerson Garcia

21 comentários :

  1. Eu entendi a metáfora que ela falou sobre a questão de gênero, achei que a repercussão foi desnecessária e hipócrita. Mesmo sendo crente não concordo com as colocações da Damaris mas nesse lance achei que foi demais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O povo gosta de polemizar o que não precisa ser polemizado.

      Excluir
  2. Sinceramente na minha opinião a ministra parecia uma criança saltitante! Acho que quem assume cargos tão importantes como o dela, precisa manter uma postura mais condizente e evitar dar munição a oposição ou aos críticos de plantão!
    O mesmo vale para o novo presidente que ao meu ver perde muitooooo tempo nas redes sociais discutindo besteiras!

    Desejo para você uma ótima semana e ricas inspirações!

    ResponderExcluir
  3. Acho que essa questão das cores é uma verdadeira estupidez!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

    ResponderExcluir
  4. Na minha opinião tem coisas bem mas importantes pra se discutir do que que cor se usa.

    Boa semana.
    Beijos
    www.glamour2.com

    ResponderExcluir
  5. Cor só tem género em cabeças muito doentes destes ratos de sacristia
    Abraço

    Kique

    Hoje em Caminhos Percorridos - Trump inicia construção de muro!!...

    ResponderExcluir
  6. Cada um veste a cor que quiser.
    Estou com uma Pesquisa de Público no blog e convido você para participar.
    big beijos,
    Lulu
    www.luluonthesky.com

    ResponderExcluir
  7. Entendi o que ela quis dizer, mas não concordo com cada palavra que ela solta. Cada vez que abre a boca, só sai porcaria.

    Beijo!
    Cores do Vício

    ResponderExcluir
  8. Boa matéria, porém a crítica do Bruno acredito que estava em pauta, não necessariamente ele usar azul e rosa em uma foto, querendo ou não os problemas sociais devem ser discutidos. Acabar com a ideologia de gênero ou falar nessa questão sempre vai gerar polêmica por ofender uma classe de pessoas ou limitar o pensamento de outras.


    www.nataliloure.com.br

    ResponderExcluir
  9. Esse é um assunto muito polêmico, mas eu acho assim: podemos usa a cor que quiser, isso tá claro, é óbvio, e a própria ministra sabe disso e usa. Porém ela falou em outra questão, o que muitos não entenderam (ou fingiram não entender só pra fazer textão e "lacrar" nas redes sociais).

    www.mayaravieira.com.br

    ResponderExcluir
  10. Well! I don't have issues as to what color to wear, I don't think colors have genders.
    The Glossychic
    Wonder Cottage

    ResponderExcluir
  11. Oi, td bem?
    Tantas coisas mais importantes no país pra uma ministra se preocupar tanto com cor, gênero e orientação sexual né? Em pleno 2019 onde as pessoas estão cada vez mais lutando por seus direitos e buscando igualdade de gêneros (um caminho tão sofrido, com diversos obstáculos) ainda temos que lidar com esses tipos de comentários em um estado que se diz laico... É triste ver que todo dia temos uma polêmica de pessoas despreparadas e infantilizadas no poder, mas sendo exagero ou não da reação do povo, ainda bem que estamos nos posicionando! É algo para se refletir...
    Beijos
    Vídeo novo: https://www.youtube.com/watch?v=CQMHdUwn1Ec
    www.somosvisiveiseinfinitos.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente devemos refletir no que você disse. Toda opinião precisa ser ouvida e aceita.

      Excluir
  12. É muito fácil entender o que ela quis dizer, tudo isso era sobre crianças e a questão da ideologia de gênero nas escolas, que a ministra é totalmente contra, a frase é basicamente sobre isso.
    Agora se a questão for outra e as pessoas forem definidas pela cor da roupa que usa ou do sapato que calça, isso sim é ridículo.

    Blog: O Planeta Alternativo

    Instagram: @WaltSeg95

    ResponderExcluir

Obrigado por mostrar seu dom. Volte sempre ;)

Nos siga nas redes sociais: Fanpage e Instagram

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 

Template por Kandis Design