domingo, 9 de agosto de 2009

Ceilândia Nordestina: Uma experiência

Duas tardes. Inesquecíveis. De muitas histórias para se contar. Dois personagens. Um lugar. Um Jovem Jornalista. É assim que eu resumo uma das melhores experiências da minha vida.







O que a Casa do Cantador teria de tão significativo que pudesse virar um capítulo de livro-reportagem?

Bem, o Palácio da Poesia e da Literatura, como assim é conhecido tem inúmeros motivos para ser tratado em um texto jornalístico.
A arquitetura em três arcos curvos e suntuosos; além de uma escada em espiral (gostei da experiência de subí-la); a concha acústica; e até mesmo o hotel conhecido como albergue de trânsito, chamam a atenção por ser o único projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer (curto muito os trabalhos dele!) fora do eixo do Plano Piloto.
Falar de arquitetura seria o máximo para um texto jornalístico né?! Descrever as curvas, o concreto, as cores e as formas. E além disso, mergulhar, em um texto literário para falar e viajar sobre escadas, lâmpadas no teto. Tudo isso renderia em um livro-reportagem. O que mais renderia?
Que tal personagens únicos e inigualáveis? Tive a oportunidade de conversar com Neumara, auxiliar de assuntos culturais da Casa do Cantador, e Damião Ramos, um nordestino nato que veio de Sergipe há mais de 20 anos e sobrevive do cordel.
Pude descrever, no capítulo, o físico e o emocional dessas pessoas. Neumara, tipicamente forte, a começar pela sua voz; simpaticíssima, a ponto de lembrar-se de mim uma semana depois; e de gênio forte, odiando aqueles que picham monumentos culturais, como o Teatro Nacional, e amando, os “cantadores” (cantadores está entre aspas, da mesma forma que Neumara falou porque não é os cantadores que cantam as mulheres, e sim os cantadores-artistas. Pude rir nessa hora).

Já Damião tem um jeito de falar característico. “É aquele da terrinha mesmo, né?”, me diz quando pergunto quais são seus costumes. É não ter vergonha de falar “pruquê”, “promodi”, “oxente”, “incrusive”. É falar da maneira certa, da maneira que se sente bem. Damião me disse que mesmo falando esses termos quando precisa falar melhor, ele fala (risos).

Tinha, através dessas duas pessoas, um raio x da Casa do Cantador. De um lado a responsável por eventos como cantorias, e do outro um representante do nordeste, um típico embolador.Possuía duas fontes satisfatórias que estavam dispostas a me falar daquele lugar um pouco para que eu construísse um capítulo do livro-reportagem.
O nome que escolhi não poderia ser diferente. Era um nome que resumia a Casa do Cantador e o povo que vivia naquela região: "Ceilândia Nordestina – a história da Casa do Cantador".
Estava disposto a entrar na vida de nordestinos que vivem em Ceilândia, e mais que isso mostrar que existe um lugar –Casa do Cantador- onde ele poderia conhecer suas origens e ter ótimas lembranças. Para isso, não poderia ser histórico e frio, por sinal, demais. Não poderia tornar meu texto maçante, cheio de dados técnicos e que não desperta a atenção no leitor.
Teria que ser poético, e além de falar de dados técnicos, histórico da Casa, teria que descrevê-la mimeticamente, e de maneira que chamasse a atenção para quem lesse. Só para ter uma ideia, veja o trecho do capítulo “Dentro e fora da Casa”, que foi o que eu escolhi para escrever nesse primeiro momento:

“Escrevi esses relatos à sombra e com a vista para a construção de Niemeyer. Três arcos curvos, acimentados com concreto que se uniam uns com os outros. Isso identifica a C.C. como uma arquitetura inovadora e a única que está fora do eixo Brasília. Quem olhava para aqueles arcos tinha a sensação de movimento e dinamicidade. É como se essas curvas percorressem o espaço e se misturassem com o natural que rodeava a arquitetura. O concreto se confundia com o habitual ao passo que as plantas, as árvores, o canto dos pássaros, significava também curvas, retas, concreto, cimento.”

Dá para perceber o tanto que fui poético nesse trecho né?

Foram duas tardes maravilhosas. Com direito a fotografias (como as que vocês viram no decorrer desse post).
Nesses dois dias que fui a Morada, Casa-Residência ou Casa do Cantador, como preferirem, pude relembrar da minha própria história e do lugar que vivo. Lugar esse que conheço muito bem pois foi onde sempre vivi.
Tenho vergonha de falar que apesar de morar perto do Palácio nunca tinha entrado nele, e às vezes passava do lado! Mas agora pude entrar e conhecer cada pedaço daquele Sítio e mirar para o céu de Ceilândia e ver: é uma Ceilândia Nordestina, com certeza. (JJ)

* Créditos de todas as fotos: Emerson Garcia


Por: Emerson Garcia

Um comentário :

  1. Ah muito bom mostrar a cultura de Brasília fora do Plano, e tão centrada na raiz nordestina, povo que ajudou a construir essa nossa capital. Já passei algumas vezes pela Casa do Cantador (parentes moram lá pertinho), e sempre achei meio abando nada, com certeza mais atenção do governo 9como quase tudo ligado a cultura no Brasil). Mas muito bom ver o lado humano de lá...as pessoas que fazem a história do lugar..e a arquitetura..que é marca de Brasília.

    Ahh adoro sotaque..hahahaha, muito bom er gente que não tem vergonha dele,e nem de sua terra natal!


    Por Samara Correia

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