A internet & o jornalismo clássico

Blogs são capazes de derrotar manipulação em notícia, diz Rodrigo Vianna

(Foto: Myrcia Hessen)

Jornalista da Rede Record e autor do blog Escrevinhador, Rodrigo Vianna deu prosseguimento à série de palestras sobre O poder da blogosfera e o jornalismo do século 21, realizadas no Iesb, outubro passado, com o objetivo de investigar o papel das novas mídias e sua influência na formação de opinião pública.

Ilusão vs. crítica – Logo no início, Vianna explicou que a mídia pauta as discussões do dia-a-dia, assim como articula, forma opinião e oferece roteiros para a sociedade. Ele a vê como parte do poder.

Para exemplificar sua linha de raciocínio, Vianna exibiu trechos do documentário A revolução não será televisionada, de Kim Bartley e Donnacha O'Briain, dois cineastas irlandeses. Eles estavam na Venezuela, sete anos atrás, para documentar a vida do presidente Hugo Chávez, quando acabaram surpreendidos pelo golpe de Estado desencadeado em abril de 2002.

A manipulação de um canal televisivo fazia o retrato de Chávez como um ditador e causador de guerras urbanas. Segundo Vianna, um fato pode ter vários enfoques que resultam do interesse de determinado meio de comunicação. “Jornalista nenhum trabalha por vontade própria”, afirma.

(Foto: Myrcia Hessen)

“Imparcialidade” – Rodrigo afirmou que “a imprensa não é imparcial, ela nasceu para defender o poder”. O palestrante fez uma retrospectiva histórica para ressaltar que o jornalismo não é neutro, sempre tomou partido. “Na escolha das palavras, metade do jogo já está ganho – para quem quer jogar este jogo”.

Rodrigo Vianna citou um caso do editorial da Folha de São Paulo, em que se conceituava a ditadura como uma “ditabranda”. Foi lembrada pelo palestrante, também, a forma como o mensalão do PT e do PSDB são retratados em outro jornal. Enquanto o mensalão “do Partido dos Trabalhadores” é colocado de forma taxativa, o mensalão do PSDB é retratado como “mensalão mineiro”.

Quebra – De acordo com Vianna, o ambiente virtual é um espaço de repercussão da grande mídia. As pautas nela geradas são dimensionadas para a internet. Não é necessário que se tenha uma pauta determinada, com repórteres na rua, especialistas e apuração, pois tudo já está apurado. O objetivo dos blogs, na concepção do jornalista, é utilizar essas informações já prontas e, a partir delas, opinar, divergir e discutir. “A internet quebra o jornalismo clássico”, ele explica. Mas, frisa Rodrigo, existe o lado negativo dessa história.

Pelo motivo da rapidez da internet é possível que um boato vire notícia. Rodrigo Vianna citou um repórter que não interpretou de maneira correta a fala de uma fonte. Ele entendeu que a fonte tinha dito que “as pessoas precisavam de tiro”. Nada disso, ela dissera, sim, que “as pessoas precisavam de tino”. Por pouco, a frase não foi parar na rede.

Outro ponto mencionado foi em relação aos riscos de errar em blog, haja vista que não há apuração. Rodrigo diz que o perigo é maior quando se trabalha sem a ajuda de um editor, que revise as informações e verifique se a mesma é correta ou não.

(Foto: Myrcia Hessen)

Blog - Ao ser questionado se os blogs podem servir de arma contra a manipulação da notícia, o palestrante respondeu convictamente sim, porque ali é um lugar para criticar o que foi produzido na esfera jornalística. “Os blogs são capazes de derrotar uma manipulação, eles incomodam e muito. Os caras ficam preocupados”, disse.

Rodrigo Vianna ressaltou também que os blogs ainda falam para uma parcela muito pequena da população – somente para aquela mais esclarecida. Os leitores devem ter conhecimento e simpatia em relação ao escritor do blog. A popularidade de muitos blogs deve-se à credibilidade do autor e à confiança depositada por parte dos leitores. Os leitores têm peso fundamental, porque “eles fazem boa parte das mudanças na internet”. (JJ) (com adaptações)

Créditos de todas as fotos: Myrcia Hessen

*Por: Emerson Garcia e Myrcia Hessen